Espaço para difusão de informações sobre energia renovável em pequena escala e eficiência energética para uso doméstico.



29 de setembro de 2010

Portugal de vento em popa

Em apenas cinco anos, o país virou referência na geração de energia renovável, tornou-se exportador de eletricidade e agora corre para inaugurar a primeira rede nacional de postos para carros elétricos

Sem desempenho econômico para se jactar e, acima de tudo, distante de qualquer pioneirismo em setores estratégicos, Portugal passou anos preso às glórias do passado, quando seus navios a vela singraram os sete mares e inauguraram a versão renascentista da globalização. Durante décadas, os portugueses se comportaram como se fossem todos viúvos de um momento excepcional que ocorreu em seu passado distante. Aos poucos, porém, o século 21 começa a se fazer presente em nossa antiga metrópole. Já totalmente integrado à União Europeia, Portugal agora olha para a frente com otimismo e quer voltar a ser admirado internacionalmente por sua inovação - mais uma vez, empurrado pelo vento. Nos últimos cinco anos, a participação das fontes de energia renováveis no consumo de eletricidade passou de 16% do total para 39% - e a principal responsável pela mudança foi justamente a exploração da energia eólica. Portugal hoje é o quarto país mais verde da União Europeia, atrás somente de Áustria, Suécia e Letônia.

Incentivos verdes

A virada começou depois de duas constatações do governo português. O país corria riscos porque dependia da importação de eletricidade da Espanha, que, numa eventual crise energética, poderia ser forçada a suspender o fornecimento. Da parte produzida internamente, um bom pedaço referia-se às termelétricas, consideradas poluentes demais em tempos de aquecimento global. Na primeira metade da década, o governo começou a fazer licitações para empresas privadas interessadas em construir e operar usinas eólicas e hidrelétricas. Para atrair essas companhias, ofereceu contratos com preços fixos por 15 anos. A EDP, a gigante portuguesa do setor elétrico, foi uma das mais ativas. Entre 2005 e 2007, ela quadruplicou sua capacidade instalada de geração de energia renovável e, com a soma de suas operações no exterior, tornou-se a terceira maior do mundo na produção de energia eólica. "A iniciativa de companhias locais, como a EDP, e a chegada das multinacionais permitiram o surgimento de um polo de inovação", afirma Luís Fernandes, membro da direção da Rede Nacional das Agências de Energia de Portugal, responsável pelo desenvolvimento de novos projetos do governo no setor.

A empresa escocesa Pelamis Wave Power já está explorando a geração de energia a partir da força das ondas do mar. A espanhola Unión Fenosa e a universidade americana MIT estão entre as que desenvolvem tecnologia para a criação de uma rede de computadores voltados ao gerenciamento de energia nas cidades. Por último, mas não menos relevante, a Siemens e um grupo de companhias estrangeiras e locais estão trabalhando para criar o que poderá ser a primeira rede nacional de abastecimento de carros elétricos do mundo. A meta é inaugurar 300 postos até o final deste ano e mais 1 000 em 2011.

"Hoje exportamos know-how e equipamentos ligados ao polo de energia renovável e nos tornamos um ator importante no cenário internacional", diz André Magrinho, vice-presidente da Associação Industrial Portuguesa, o maior sindicato patronal do país. Ao optar por uma matriz renovável, o país acabou com sua vulnerabilidade externa e, no ano passado, pela primeira vez exportou eletricidade para a Espanha.

Uma das experiências mais inovadoras em operação em Portugal é a chamada "microgeração de energia". Trata-se de uma rede de quase 6 000 pessoas, donas de painéis solares, que vendem os excedentes a um preço três vezes maior do que pagam na fatura de energia elétrica. O investimento para adquirir a tecnologia necessária, de cerca de 20 000 euros, paga-se em cerca de seis anos. Depois disso, tudo o que entrar é lucro. "É um negócio ainda embrionário, mas pode ser o primeiro passo de um modelo que deve se tornar padrão em outras partes do mundo", afirma o professor Guilherme Carrilho da Graça, especialista em energia da Universidade de Lisboa. O maior problema desse programa até agora é o interesse da população. A procura é tanta que o governo não consegue cadastrar todos os pedidos no sistema. Fazia tempo, muito tempo, que os portugueses não se mostravam tão animados com o futuro.


Fonte: http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0976/negocios-globais/portugal-vento-popa-598937.html?page=2

Nenhum comentário:

Postar um comentário